Os compostos bioativos da laranja ajudam a controlar a glicose no sangue.

Um estudo realizado na Universidade de São Paulo (USP) sugere que compostos bioativos encontrados na laranja ajudam a modular os níveis de açúcar no sangue, o que pode tornar a fruta uma aliada no combate ao diabetes.

A investigação foi conduzida por uma equipe de pesquisadores do Centro de Pesquisa em Alimentos da Universidade de São Paulo (FoRC), Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF-USP).

Participaram 12 voluntários saudáveis, de ambos os sexos, que, após jejum noturno, ingeriram uma refeição rica em gordura e carboidratos, com 1.037 kcal. Eles foram divididos em três grupos: Um que bebeu apenas água durante a refeição, outro que tomou suco de laranja e um terceiro que recebeu uma bebida à base de glicose com teor de carboidratos equivalente ao do suco de laranja.

Glicemia dos voluntários

A glicemia dos voluntários foi analisada uma, três e cinco horas após o término do café da manhã. Na primeira medição, como esperado, os três grupos apresentaram aumento da glicemia. De fato, os valores de glicose no sangue (nível de glicose no sangue) e insulina (taxa de insulina no sangue) do grupo suco de laranja não diferiram significativamente daqueles observados no grupo água em todas as avaliações. Após cinco horas, o nível de glicose no sangue do grupo suco de laranja foi maior do que o observado em ambos os grupos água. No entanto, devido a um ligeiro aumento na concentração de insulina, a glicemia observada neste grupo permaneceu significativamente menor do que a observada em ambos os grupos de água (os dados apresentados representam valores médios ± desvios padrão).

Deve-se notar que levou mais tempo para estes voluntários para se acostumar com o suco de laranja do que com água. Ao final de cinco horas, os valores de glicose no sangue em ambos os grupos retornaram aos seus níveis basais. Na terceira medida, também, observou-se que houve um leve aumento nos valores de glicemia e insulina após o café da manhã em comparação com as duas primeiras medidas e também um leve decréscimo quando comparado com a água (os dados apresentados representam duas primeiras medidas e também um leve decréscimo quando comparado com a água (os dados apresentados representam a média ± DP das 3 medições).

Compostos bioativos da laranja pode ajudar a conter o aumento da glicose

O próximo passo foi investigar como o suco de laranja teria ajudado a conter o aumento da glicose no sangue. Para isso, os cientistas coletaram amostras de sangue de voluntários e analisaram a expressão dos chamados microRNAs, um tipo de RNA que tem a função de regular a expressão gênica por meio de interações com o RNA mensageiro.

Esses microRNAs controlam a expressão gênica e moldam a estrutura do DNA. A equipe descobriu que as amostras de sangue dos participantes que consumiram uma dieta rica em frutose mostraram níveis significativamente mais altos de cinco tipos de microRNAs do que aqueles que não consumiram uma dieta rica em frutose. Estes incluíram dois microRNAs associados ao fígado, dois relacionados ao acúmulo de gordura no tecido adiposo.

Percebemos que o suco de laranja teve uma ação particular no microRNA 375 ou miR-375, que é um biomarcador da função das células beta pancreáticas. Descobrimos que o miR-375 suprimiu significativamente a expressão de células beta pancreáticas. Sabe-se que o pâncreas regula sua própria produção de mRNAs (microRNAs) e produtos proteicos, que desempenham um papel na manutenção da secreção de insulina”, explica Vyacheslav Munosov, PhD, professor da Yale School of Medicine. Os resultados indicam, portanto, que o suco de laranja pode ter uma ação benéfica na produção de insulina e, consequentemente, na modulação glicêmica.

A normalização da expressão de microRNA pode melhorar a secreção de insulina e a intolerância à glicose no diabetes. Nossos resultados sugerem que o suco de laranja pode ter um efeito benéfico no pâncreas. Este estudo sugere que o consumo oral de suco de laranja tem uma ação curativa, atuando como agente antiglicêmico em vez de simplesmente ser um potenciador metabólico”, conclui Munosov.

Nossos resultados apontam o miR-375 como uma possível causa, mas é algo que ainda precisa ser confirmado. Por exemplo, estudos com pacientes diabéticos são necessários para entender exatamente como esse mecanismo funciona.

O artigo Ingestion of orange juice prevents hyperglycemia and increased plasma miR-375 expression pode ser lido em: https://clinicalnutritionespen.com/article/S2405-4577(21)01149-9/pdf#%20.